A PESTE SUÍNA E O IPVDF


Sérgio J. de Oliveira
Médico Veterinário,
Dr. Integrante da Equipe de Patologia Suína do IPVDF, no período de 1979 a 1996.


O Instituto de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor (IPVDF), foi uma Instituição em que a busca pelo conhecimento na área da Medicina Veterinária norteou sempre aqueles profissionais que eram selecionados e treinados, especializados e lá trabalharam. Pretende-se neste relato, registrar um fragmento da história das realizações do IPVDF, específicamente no diagnóstico de doenças em suínos, com ênfase na contribuição do Instituto para a erradicação da Peste Suína, no período de 1972 a 1996.

A Peste Suína

Embora o IPVDF no início das atividades tinha a função de colaborar no controle da Febre Aftosa, no decorrer de sua trajetória trouxe soluções para controle de diversas outras doenças e foi se constituindo no órgão de apoio laboratorial indispensável à saúde animal no Rio Grande do Sul.

Ainda antes da instalação definitiva do IPVDF em Guaíba, ocorreu em 1947 uma grave epizootia de Peste Suína Clássica (PSC), atingindo 30 mil pequenas propriedades e matando metade da população suína do RS. O Serviço de Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura, com o auxílio do Instituto organizou a primeira campanha contra uma doença infecciosa realizada no Estado, o controle e erradicação da Peste Suína.

Sendo uma doença contagiosa de rápida disseminação, foi decidido trabalhar em um local isolado. A partir de 1951, quando os laboratórios já existiam na sede atual, decidiu-se pela tentativa de produção de vacina, mas em outro local , sendo escolhida a “Ilha das Pedras Brancas”, situada em meio ao Rio Guaíba, entre Porto Alegre e a cidade de Guaíba. O trabalho com animais infectados na ilha diminuía as possibilidades de escape do vírus do laboratório. Entre os anos 1951 e 1954 a ilha foi utilizada pelo IPVDF na produção de vacina contra a peste suína, denominada “Vacina Cristal Violeta”. Foram treinados auxiliares para viabilizar a produção, pois o trabalho era intenso e seguia padronização, sendo inoculado vírus em vários suínos e colhido o sangue na fase febril para então ser produzida a vacina. Na década de 1950 atingiu-se a produção de 120 mil doses de vacina. Esta produção era entregue ao serviço de Defesa Sanitária Animal da SA e então distribuída à rede de Inspetorias Veterinárias, sendo aplicada em suínos de muitas propriedades rurais do Estado, 85 % delas eram pequenos agricultores. Consta que a vacina “protegia 100%”, mas a aplicação compulsória forneceu vários episódios de revolta, alguns acidentes, muito trabalho aos Médicos Veterinários Inspetores.

A produção da vacina na Ilha das Pedras Brancas foi interrompida, sendo a ilha entregue em 1955 às “autoridades policiais do Estado” (consta na ata de reuniões técnicas do IPVDF de 1955), foi cedida à Secretaria de Segurança, sendo utilizada como presídio. A produção da vacina contra a PSC cristal violeta teve continuidade no IPVDF, em instalações especificamente construídas para essa finalidade.

Pesquisas sobre vacinas contra a doença estavam em andamento, visando aprimorar a técnica de produção. Houve então o surgimento da vacina com multiplicação em célula, com a “cepa chinesa”. Esta amostra do vírus sofreu um número indefinido de passagens para adaptação em cultivos celulares e o resultado foi uma vacina muito eficaz. Pesquisas também foram realizadas no laboratório de virologia do Instituto e repassados os resultados a empresas privadas .

Em que pese o uso de vacinação e vigilância sanitária, vários focos de PSC surgiram com muita intensidade na década de 1980. Chegavam ao Laboratório de Patologia Suína do IPVDF veículos com suínos mortos, outros com sinais de doença, que exigiam pronto atendimento da equipe do laboratório, no período composta de três Médicos Veterinários e três auxiliares. No mesmo dia em que chegavam os suínos, tinham de ser realizadas as necropsias, colhidos os materiais para exame e fazia-se o diagnóstico diferencial com outras doenças hemorrágicas. No caso de suspeita de PSC, parte do material era examinado no Laboratório de Histopatologia, principalmente cérebro, pois o exame histopatológico do encéfalo com resultado de meningoencefalíte não purulenta diferenciava das septicemias bacterianas. Na Histopatologia trabalhavam dois Médicos Veterinários e um auxiliar. Esta equipe constituiu-se em excelente apoio não somente para diagnóstico de doenças de suínos, mas também de outras espécies. Muitas pesquisas foram publicadas em conjunto pelas equipes de Patologia Suína e Histopatologia. O material colhido através das necropsias também era enviado ao Laboratório de Virologia, onde trabalhavam quatro Médicos Veterinários e três auxiliares. As provas virológicas consistiam no isolamento de vírus em células e imunofluorescência direta (atualmente pode ser feito diagnóstico molecular). A equipe de Patologia Suína dispunha de uma sala de necropsias exclusiva para suínos, a qual foi construída graças a recursos de convênios e pesquisas financiadas pelo CNPQ e FAPERGS. Materiais para exame chegavam do interior do RS e de SC, fragmentos de órgãos acondicionados em caixa térmica com gelo deviam ser trabalhados no laboratório no dia da chegada, muitas vezes coincidindo com a vinda de suínos a serem necropsiados. Muitas vezes o horário de serviço era estendido, com a equipe do laboratório extenuada mas com certa alegria de entender a utilidade do serviço. À época, foram identificadas diversas enfermidades de suínos pela primeira vez no Estado, algumas até então não conhecidas no Brasil, sendo publicadas pesquisas em periódicos e os resultados apresentados em congressos no país e exterior.

O programa de controle e erradicação da PSC a nível nacional teve continuidade e o resultado foi alcançado, isto é, em 15 de março de 1998 foi oficialmente proibida a vacinação em todo o país e em 2001 foram declarados livres de PSC os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Espirito Santo, Bahia e Distrito Federal.

Suinos febris, amontoados e Suíno morto (hemorragia cutânea).










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