Med-Vet Luiz Francisco C. Ferreira
Entre as diversas áreas de atuação profissional do Médico-Veterinário ligada a saúde animal, publica e ambiental, uma de modo um tanto específica a cada ano vem adquirindo mais espaço no mercado de trabalho, trata-se da atuação do Med-Vet na Indústria Farmacêutica Veterinária.
Uns dos motivos deste crescimento deve-se ao aumento da regulação das empresas, trazendo impacto nas indústrias que produzem medicamentos para uso animal com tendência de obter o mesmo grau de exigências para aquelas empresas que produzem medicamentos para uso humano, como exemplo, a recente aprovação da PL 1343, em que alguns laboratórios produtores de vacina para uso animal, poderão deslocar sua produção para a vacina contra a Covid-19. Muitas industrias, principalmente as transnacionais, compartilham vários fármacos tanto de uso humano como de uso animal, facilitando deste modo a diluição de custos na pesquisa e desenvolvimento.
A Industria farmacêutica veterinária está a sob legislação do Ministério da Agricultura onde o Decreto Lei nº 5023 de 2004 estabelece O REGULAMENTO DE FISCALIZAÇÃO DE PRODUTOS DE USO VETERINÁRIO E DOS ESTABELECIMENTOS QUE OS FABRIQUEM OU COMERCIEM, neste decreto encontra-se especificado no Cap V, Art 18, que as industrias deverão ter, tanto na área de produção de biológicos ( vacinas, soros, kits diagnósticos, etc) como de fármacos ( injetáveis, orais, pomadas, pós) um Médico Veterinário como responsável técnico e/ou gerenciando estas áreas.
Apesar de encontrar-me afastado há mais de 10 anos, venho aqui expor algumas breves consideraçõessobre minha experiência nestaatividade, acreditando que parte do modus operandi das empresas e dos Med-Veterinários na Industria ainda estão vigentes.
As áreas produtivas das empresas, via de regra,estão segmentadas em três grandes setores,produção de Imunobiológicos, Fármacos e Controle de Qualidade, onde o Med-Vet pode e deve atuar comoResponsávelTécnico e também como Coordenador destes setores.
Toda a indústria possui uma central de utilidades onde a água, de fundamental importância para os produtos injetáveis, ovapor para esterilização dos equipamentos, procedente de uma água de qualidade e oar comprimido estéril são gerados. Na figura abaixo, equipamento(osmose reverso) para purificação da água utilizadana produção de vacinas e fármacos injetáveis.
Nos processos produtivos em larga escala, tanto para os imunobiológicos (vacinas víricas ou bacterianas)como para fármacos, são utilizados biorreatores monitorados automaticamente,visando o crescimento e produção em grandes quantidades, obedecendo padrões preestabelecidos de temperatura, pressão, agitação e aeração, dependendo de cada agente microbiano a ser cultivado ou droga a ser produzida. Na fotoabaixo, uma linha de biorreatores para crescimento de células clonadas de animais, destinadas a replicação viral na produção de vacinas.
Aos profissionais que atuam na indústria são requeridos conhecimento prévio de bacteriologia, virologia, imunologia e farmacologia, entre outros. Os processos produtivos, principalmente na área biológica, são de natureza biotecnológica onde o uso de equipamentos usados para tal fim são muitas vezes desenhados em conjunto entre o Responsável Técnico e a empresa de engenharia metalúrgica, fabricante do equipamento.
Os setores de produção de fármacos e biológicos são separados fisicamente e em especial o setor de imunobiológicosé sub dividido em duas zonas, também separadas, denominadas de zona livre e zona “contaminada”, onde a principal diferença entre elas, além de pessoal específico à cada uma, é o diferencial da pressão atmosférica, sendo utilizada pressão atmosférica negativa na zona “contaminada”, para evitar escape do agente microbiano que está sendo manipulado e na zona livr eutilizada uma pressão positiva com a finalidade de evitar a entrada de contaminantes.
Toda a atividade produtiva de uma indústria deverá ter um Sistema de Garantia da Qualidade no qual sãodesenvolvidos documentos que assegurem o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação, entre estes,os procedimentos de fabricação, docontrole de qualidadede cada produto, da qualificação e validação dos processos produtivos,dos equipamentos e treinamento do pessoal, entre outros.
É da competência do Responsável Técnico,fazer cumprir todos os procedimentos da empresa, que tenham relação direta com os produtos. Supervisionar os processos de admissões, demissões e promoções de pessoal ligado à área técnica. Coordenare promover treinamento interno e externo do quadro de coordenadores técnicos.Coordenar a elaboração do programa de produção dos produtos. Elaborar de forma conjunta com o setor de suprimentos a compra de matérias-primas, materiais de embalagem, etc, necessários para o processo produtivo.Representar a empresa nas reuniões técnicas promovidas pelas instituições públicas e privadas. Coordenar o desenvolvimento de novos produtos. Solicitar ao setor responsável o registro de novo produto junto ao Ministério da Agricultura.Elaborar os planos de investimentos para modernização da planta industrial.
Ao Coordenador de Imunobiológicos compete: Determinar as normas internas de trabalho que envolva conhecimentos de microbiologia (virologia e bacteriológica). Elaborar os procedimentos operacionais das vacinasque estão sendo fabricadas.Formulação dos antígenos e meios que estão sendo produzidas pelo setor. Orientar os subordinados quanto à metodologia de produção de antígenos, vacinas e meios de cultura.Coordenar a execução dos programas de produção.
Ao Coordenador de Fármacos compete:Supervisionar a produção, visando à avaliação das necessidades e atividades para que a produção esteja dentro dos padrões de qualidade requeridos.Definir claramente o processo de fabricação, documentá-lo e mantê-lo sempre revisado e atualizado.Evitar risco de contaminação cruzada durante as atividades produtivas por misturar e/ou substituição de produtos, promovendo a separação física entre os processos de embalagem.Aprovar as fórmulas Padrões e os Procedimentos da produção.Assegurar e/ou gerar as condições necessárias à adequação de instalações, equipamentos e ambiente requeridos pelas Boas Práticas.Treinar os colaboradores, qualificando-os para as diferentes atividades do processo de fabricação. Iniciar os registros de lotes de produção na Ordem de Produção e a reconciliação com lote de Produção.Avaliar os desvios da qualidade juntamente com a garantia da qualidade, promovendo, quando for necessário, a investigação, o levantamento das causas, para definir as ações necessárias à solução de desvio de qualidade apontado.
Ao Coordenador do Controle de Qualidade caberá, entre outras ações, assegurar que sejam realizados, para cada produto, os ensaios exigidos por compêndios oficiais, e na ausência destes, por métodos internos referenciados. Aprovar ou reprovar matérias-primas, materiais de embalagem, produto elaborado e produto acabado. Manter sempre atualizados os métodos e procedimentos analíticos. Manter o registro das análises efetuadas. Garantir a manutenção de amostras de referência das amostras analisadas.Abaixo foto parcial de um Laboratório de Controle de Qualidade.
Como sabemos a indústria farmacêutica veterinária vem ganhando nas últimas décadas espaço em razão da alta demanda relacionada ao uso de vacinas, fármacos, cosméticos e correlatos para uso animal, diante deste cenário advém a importância do Med- Veterinário em atuar nestas empresas como Responsável Técnico, Coordenador da Produção de Imunobiológicos, de Fármacos, e do Controle da Qualidade. Lembrando aos jovens profissionais, independentemente da sua vocação ou atividade, que o conhecimento liberta, apesar da dificuldade ou impossibilidade de alcançá-lo na sua plenitude.