Ao retratar o trajeto da Sovergs é imperativo abordar, mesmo resumidamente, a origem da profissão em nosso estado devido a forte relação entre ambas.

Na publicação intitulada "Memória Comemorativa do Primeiro Cinquentenário da Faculdade de Agronomia e Veterinaria", documento elaborado em 1960, pela então Universidade do Rio Grande do Sul, encontramos lá a descrição dos primórdios da Medicina Veterinaria Gaúcha.

Foi em 1923, quando cinco alunos se matricularam no Curso de Veterinária. Destes, quatro vieram a serem graduados, em 1926.

Desidério Torquato Finamor, Taltibio Gomes da Silveira, Nery Silva e Carlos Serafim de Castro fizeram parte da primeira turma de Veterinários graduados no Rio Grande do Sul. Em um lapso de tempo de 50 anos, ou seja, até 1960, graduaram-se 267 profissionais, grande parte deles expoentes fundamentais em diferentes instituições de ensino, pesquisa, indústria e governos.

A eles a "Memória Comemorativa" dedicou um justo reconhecimento nas suas primeiras páginas intitulado "Homenagem ao Passado", cujo parte do texto reproduzimos:

"No momento em que comemoramos nosso primeiro cinquentenário, impõem-se esta homenagem ao passado de nossa Instituição, representado tanto pelos professores que hoje pertencem a sua galeria postuma, como pelos que, após longos anos de inestimáveis serviços, conquistaram o privilégio do ócio com dignidade.
Foram eles, afinal, os construtores da grandeza que nós, seus herdeiros, devemos levar ao futuro".

Doze anos se passaram desde a graduação da primeira turma e, em 01/06/1938, inicia a história da Sovergs, tendo como marco a sua ata de fundação de quatro páginas manuscritas que reproduziremos de acordo com a ortografia da época, a seguir.

Estava criada a entidade raiz e mater da Medicina Veterinaria do Rio Grande do Sul!


ACTA n° 1

Em 1° de junho de 1938, reunidos em uma das salas da Federação das Associações Ruraes do Rio Grande do Sul, gentilmente cedida, reuniu-se um grande número de Médicos Veterinários, que a esta acta opõem a sua assignatura, para fundarem a Sociedade Sulbrasileira de Medicina Veterinaria, com sede em Porto Alegre.

As 201/2 horas, foram aclamados, entre os presentes, o Capitão Médico Veterinário Antônio José Henning e o que a este subscreve, para respectivamente presidir e secretariar a sessão que iria realizar-se o fim já descripto acima.

Tomando a palavra o presidente, declara os fins a que se destina a assembleia e diz que aquella reunião era promovida para a concentração da ideia lançada pelo professor Delphin de Mesquita Barbosa, diretor do Boletim Veterinário, no sentido de congregar a classe em uma Sociedade Científica e de defesa de seus interesses profissionaes, por esta razão dava a palavra ao autor da ideia.

Tomando a palavra o Dr. Mesquita Barbosa fez um rápido histórico sobre a necessidade de reunião da classe e o desejo que a mesma sentia em possuir um centro onde pudesse trazer o conhecimento aos collegas os trabalhos realizados e também a classe ter um órgão em a qual encontrasse a defesa de seus interesses muitas vezes feridos.

Após estas palavras passou a ler a súmula dos estatutos, dando o fim a que se destina a nova associação, sua administração, criação de caixa de pecúlio do Médico Veterinário e a caixa do estudante de Veterinária.

Uma vez posta em discussão os pontos principaes do estatuto, foram os mesmos aprovados, passando-se em seguida a eleger a Diretoria, que deverá reger a Sociedade por dois annos, de acordo com os dispositivos estatutários e cujo resultado final foi o seguinte:

Após a eleição foi considerada empossada a Diretoria eleita tomando assento a meza os membros presentes e considerando-se os ausentes e eleitos como empossados na presente sessão.

Continuando a sessão, tomou novamente a palavra, o Secretário Geral, recentemente eleito, que fez uma dissertação sobre o progresso da Medicina Veterinaria no Brasil, mostrando que já existia no paíz várias sociedades, entre ellas, a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinaria, a primeira fundada em nosso paíz, cuja sociedade deveria receber o apoio da classe no Brasil, pois muito tem feito em prol da profissão, a Sociedade Paulista de Medicina Veterinaria, com sede em São Paulo, a Sociedade Mineira de Medicina Veterinaria, com sede em Belo Horizonte, a Sociedade Nordestina de Medicina Veterinaria, com sede em Recife e abrangendo todos os estados do norte, faltando somente a sociedade do Sul do Brasil, que ora acaba de ser criada.

Passou, em seguida, o orador, a demonstrar a ação que o Coronel Juarez Távora havia tido quando Ministro de Agricultura, para que a profissão de Médico Veterinário fosse regulamentada e passasse a ser, de fato exercida por profissionaes diplomados em Medicina Veterinaria e não por outros como vinha sendo feito no paíz, pois no corpo de veterinários do Ministério de Agricultura tinha o Coronel Távora encontrado até advogados, além de um grande número de Médicos e Engenheiros Agrônomos, exercendo a profissão de Médico Veterinário.

O trabalho do Ministro Távora, tinha sido coroado com a assignatura do decreto 23133, de 9 de setembro de 1933, regulando a profissão de Médico Veterinário no Brasil.
Disse ainda o Dr. Barbosa, que factos, na vida se sucediam e se repetiam de annos e annos, mostrando que assim como o Coronel Távora havia feito em 1931 agora, sete annos depois vinha a classe no Rio Grande do Sul encontrar amparo na lei na pessoa do ilustre Interventor Federal Coronel Cordeiro de Faria, que está empenhado em que seja executada, no Estado, o decreto de regulamentação da profissão, tanto assim, que já tinha dado sobejas provas, recebendo o protesto de um collega que havia sido preterido em seus direitos profissionaes.

Por esta razão e como reconhecimento da classe propunha fosse aclamado como presidente de honra da Sociedade Sulbrasileira de Medicina Veterinaria, o Coronel Cordeiro de Faria, a exemplo do que já havia sido feito na Sociedade Brasileira de Medicina Veterinaria com o Coronel Juarez Távora.
Essa proposta foi recebida com uma salva de Palmas pela assistencia e, em seguida, ainda, por proposta do orador, foi designada a comissão que deveria ir a residência do Coronel Cordeiro de Faria fazer a respectiva comunicação, cuja comissão ficou assim constituída: Capitães Antônio José Henning, Aristides C. Leal, Dr. Durval B. Valladares e Tércio Dutra de Almeida.

Por um dispositivo estatutário, ficou ainda reservado lugares para que esta acta seja assignada por todos os collegas que adheriram ao recente movimento até 1° de setembro, afim de gozarem das prerrogativas de sócios fundadores.

Nada mais havendo a ser tratado, foi pelo Presidente encerrada a sessão às 23 horas e por mim como Secretário Geral lavrado a presente acta, que vai assignada pelo Presidente, Secretário Geral, todos os presentes e aquelles que desejarem figurar como sócios fundadores da Sociedade, cujas assinaturas deverão ser encerradas pelo Presidente e Secretário Geral no dia 1° de setembro de 1938.